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As coisas que uma pessoa recorda..faz hoje, dia 15 de Dezembro de 2019, 40 anos que fui para Angola.
Naquele distante dia, com a sacola às costas rumei de Penafiel até Angola ao abrigo dum acordo de Cooperação entre a República Portuguesa e a República de Angola, através do Ministério da Educação. Lembro que a disciplina que ia dar era Formação Manual e Politécnica e tinha sido colocado em N´Dalatando (ex Cidade Salazar), capital da província do Cuanza Norte.
Naquele dia, de Penafiel, parti eu e a Zita, mais tarde juntaram-se-nos o Zé Augusto, o Alexandre, o Hugo (amigos de infância) o Rodrigo, o Álvaro, o Zé Alberto, o Mário, todos dos arredores de Penafiel, mas colocados em pontos diferentes de Angola. Foram tempos difíceis mas agradáveis que recordo com saudades.
Estive 3 anos em Angola, dos quais 1 em N´Dalatando e os outros 2 no Waco kungo (ex cidade Cela), província do Cuanza Sul.
Muitas peripécias, tempos difíceis (a luta ainda se travava entre a UNITA e o MPLA) mas que valeram a pena..
Dentro desta luta lembro alguns dos episódios que me marcaram devido à guerrilha na altura. Tinha um colega cooperante, o Carlos, amigo que hoje mora no Porto, mais precisamente na Póvoa, que em Angola tinha um carro citroen 2 cavalos, e ia nele do Wako Kungo a Luanda passar todos os fim-de-semana, para se encontrar com os colegas de Luanda (a maioria dos cooperantes estava lá) e trazer mantimentos para a semana.
Eu costumava ir sempre com ele e eram 530Km, 1060Km para ida e vinda, mas nem sempre as estradas estavam transitáveis, porque a guerrilha fazia-se sentir e então passamos alguns momentos de arrepiar os cabelos. Uma das vezes que as estradas estavam cortadas e já há bastante tempo, os alimentos começavam a rarear, mas nós lá ìamos e vinhamos sem que nada nos acontecesse, até o Director da Escola nos pedia boleia, porque só connosco é que podia passar.
Foi então que soubemos, mais tarde, que os nossos próprios colegas da escola, Angolanos, também faziam parte desses controles e eram membros da facção contrária ao poder e quando nós saíamos com o 2 cavalos havia uma rede de comunicação para nos deixarem passar.
Lembro também que a 1ª viagem que fiz para a escola onde tinha sido colocado no Wako Kungo, ía de autocarro de Sumbe (capital do Kuanza Sul) da casa do meu amigo José Augusto, ele dizia-me, não vás que ainda não existem condições para passar na estrada, mas eu fui e foram 2 autocarros, ia no 2º quando o meu aflitivamente deu a volta para trás, vim a saber que o 1º autocarro tinha sido queimado. Mas passado uns tempos lá me levaram numa escolta para a minha escola do Wako.
Mesmo neste clima de tensão, recordo que já no final do meu contrato, não ia renovar e por isso regressava a Portugal e quando já estava em Luanda pronto para embarcar, fizeram-me ver que faltava um documento, julgo eu o “cartão DEFA”, que tinha que entregar no aeroporto. Tinha-me esquecido dele no Wako Kungo, como não havia transporte, por causa da guerrilha, fui à boleia e para ir e regressar demorei uma semana nas viagens, dormindo em casa de Angolanos que nem me conheciam e recordo dormir numa das noites numa esteira numa cubata junto dos Angolanos que me deram o jantar da sua famosa gastronomia “o Funge” muito apreciado e que se comia com a mão.
São apenas recordações que deixam saudades. Saudades daquele povo que apesar das dificuldades vividas, notavam-se nos olhos a esperança dum futuro melhor. Saudades daquela entrada de ano em plena praia com a areia florescente. Saudades dos meus alunos. Cheguei a ter 80, digo bem, oitenta alunos numa sala, de pé ficava metade e era um silêncio para deixar o professor falar. Destes oitenta, chegaram ao final cerca de 30, não porque desistiam mas porque a vida assim os obrigava. Saudades dos meus colegas, são 40 anos, dos quais alguns nunca mais vi. Até saudades do 2 cavalos do carro Carlos que nunca nos deixou no caminho.
Saudades!….
Obs: Foi assim que comecei ao serviço do Ministério da Educação, faz hoje 40 anos que dei inicio a esta caminhada.